As Depressões de Herta Müller não são psíquicas. São geológicas: terras baixas, vales, fossas. São também buracos onde se dá a putrefação humana: o caixão, a cova, a latrina.No relato que dá título ao livro, a menina vê o pai no ataúde. Vaga entre sepulcros. Chora sentada na privada porque é proibida de chorar sem razão. Senão a mãe a espanca e diz: agora você tem motivo para chorar. Avós, pais e neta se sucedem na banheira para fazer a higiene semanal, afundam na mesma água onde boia a sujeira do clã.Se os lugares e coisas são insalubres, os temas dos contos de estreia da Nobel de Literatura são lúgubres: alcoolismo, solidão, adultério. Sobretudo violência. Dos homens com as mulheres, das mulheres com as crianças, das crianças com os bichos, de todos com todos.