Cada idioma tem seu próprio som, por isso cada idioma traz sua própria voz e constrói para si um particular, como que em coro, formando os mesmos cantos que ficam espalhados pelo mundo afora, no tempo e no espaço, sempre entoados por bardos, poetas que choram o choro e riem os risos de sua gente. E quando esses cantos se entremigram, os idiomas, em si, clamam por outros mesmos poetas para transpor sons e fronteiras. É o que acontece com esta tradução de parte da obra do polêmico poeta William Blake que aqui temos, a quatro mãos, feita por Gilberto Sorbini e Weimar de Carvalho. São vozes mescladas de inocência e pecado, vindas lá do pré-romantismo inglês, que ganham uma versão muito particular em nossa língua. Com isso, o público é presenteado com dois cantos, dois fingimentos, já que, como viria a dizer Fernando Pessoa, o poeta é um fingidor: o primeiro, pairando solto no tempo na voz de Blake; o segundo, ouvido e transposto para nosso idioma nas vozes de Gilberto e Weimar.