Natália é a autora fictícia de um diário íntimo, espécie de treino de escrita para um possível romance que ela própria pudesse um dia vir a escrever, e que, afinal, no nível do narrado, nunca se concretiza. A fatalidade do destino de seu texto não realizado se liga, aliás, a um gesto - mais contingente que voluntário de sua autora - de apertar, no final da escrita, a tecla do delete, modo emblemático de uma desistência maior. O outro modo de entender tal desistência factual será a de perceber a sua ligação com uma questão que é ao mesmo tempo conceitualmente literária e psicanalítica. Explico-me: o desejo de escrever é estimulado em Natália por mais uma construção de duplos fantasmáticos, em que a figura do Avô - morto então há poucos meses - se cola à de um escritor que ela entrevista para um programa de televisão cujo tema não é outro senão o modo de escrever literatura.