Michel Maffesoli é um dos autores franceses mais publicados no Brasil. E não é por acaso. Os seus livros conseguem falar do presente sem ranço nem desesperança. Mas, ao mesmo tempo, não perdem o viés crítico nem a capacidade de formular novas e desconcertantes hipóteses. A verdade é que Maffesoli, na contramão do senso comum intelectual, mostra que amar a vida não é pecado. Neste "Apocalipse", texto curto e de grande intensidade, ele entra num terreno cada vez mais fértil em aridez, caso se possa aceitar tal absurdo expressivo: a diferença entre opinião pública e opinião publicada. É polêmica da boa. O principal teórico da pós-modernidade denuncia o conformismo dos intelectuais. Todos os dias, em grandes jornais ou revistas, é possível ler artigos críticos e pretensamente eruditos que apresentam mais do mesmo com ares de descoberta fundamental. São velhas ilusões divulgadas como novas verdades sob formas que nunca variam. Efeitos de assinatura e de publicação convertem em dogma aquilo que é apenas dogmatismo. As elites do pensamento tentam desesperadamente manter seus privilégios repetindo o que sempre disseram e nunca se confirmou como um mantra capaz de dar veracidade ao que jamais passou de um olhar estrábico. Crítica e conformismo andam agora de mãos dadas como velhas senhoras desencantadas reclamando dos novos tempos. Poucos analistas da sociedade contemporânea têm alcançado o alto grau de compreensão dos imaginários atuais como Michel Maffesoli. Nesta época em que o discurso da mídia julga, condena, reclama autoridade e autoritarismo, Maffesoli revela as contradições desse moralismo politicamente correto feito sob medida para adular uma audiência conservadora e manter em atividade uma imprensa conversadora. O leitor encontrará neste "Apocalipse" um vento novo.