Neste livro, eu, como bola de futebol, contei algumas experiências minhas ao escritor e jornalista Renato Pompeu. Ele achou que, com histórias de meus milênios de vivência, poderia comemorar os 100 anos da AA Ponte Preta, os 500 anos do Brasil, os 2000 anos do Cristo e os 5000 anos do futebol já com gramado e gols demarcados. Assim seja. Renato Pompeu nos apresenta mais um extrato genial. Este seu livro-bola, como gosta de dizer, traz apontamentos inéditos aos estudiosos de futebol e das ciências sociais. Cabe aos artistas revelar as porções mais significativas da maior expressão da vida brazuca: o futebol. Das orelhas de Juca Kfouri: Só Renato Pompeu para ter a bola de futebol como testemunha e narradora dos acontecimentos mais importantes da história da humanidade. Porque só ele tem verve e erudição para tanto. O mesmo Pompeu que, 25 anos atrás, escreveu o clássico A Saída do Primeiro Tempo, a mais inteligente apropriação do capítulo sobre a mercadoria de O Capital, de Karl Marx. Este Memórias de uma bola de futebol segue a mesma saga e a complementa de maneira igualmente deliciosa. Além de ser uma aula completa. Aula de estilo, aula de ironia, aula de História, aula de futebol, aula de bola, que também tem alma. É um livro perfeito? Não, claro que não, porque nada o é, nem Pelé. Faltam, por exemplo, momentos altos da história que a bola ouvida por Pompeu fez questão de não mencionar, para não dar o braço a torcer, certamente. Ou até contou mas Pompeu, qual um goleiro zeloso, tratou de defender, de filtrar. Por exemplo: falta a história do dia em que a bola ? 22 anos de teimosia, um travessão e uma cabeçada do ponte pretano Oscar depois ? acabou saindo do sagrado pé direito de Basílio para libertar a nação corintiana de um sofrimento que parecia interminável, em 1977, no Morumbi. Ou a história acontecida no santuário do Maracanã, sob o testemunho do mundo todo, pela TV: o glorioso Sport Club Corinthians Paulista derrotou o Vasco ( mesmo uniforme da Ponte Preta), em 14 de Janeiro de 2000, e tornou-se o primeiro campão mundial de clubes reconhecido pela Fifa. Naquela noite épica, a bola ouviu pela primeira vez um refrão que nunca mais esquecerá: Ô, ô, ô, ô, ô todo poderoso Timão!, precedido de dois toques secos de bumbo, e entoado por mais de três horas por milhares de fiéis em transe. São, digamos assim, falhas justificadas pelo coração do autor e, portanto, estão desde já redimidas pela excelência do que você vai ler aqui. Porque o mundo é uma bola, coisa que outro craque, Galileu, sempre soube e que Pompeu trata de aprovar exaustivamente. Com graça e competência.