Trauma não é apenas acidente. O motorista que não obedece às leis do trânsito ou ingere álcool e vai dirigir, o meliante que usa arma para assaltar e o viciado que se droga não causam trauma por acidente. Trauma é uma doença também. E tem muitas etiologias. É uma doença que fez com que povos guerreassem desde os primórdios da civilização. Por isso, não é uma doença deste século nem do que passou, é de todos os séculos. A guerra é a sublimação do trauma para satisfazer a ambição do poder. Os que a desencadeiam reis, tiranos ou outros governantes comandam o povo para subjugar ou destruir outro povo, levando à morte parte da sua gente. Numa conferência entre dois reis, antes de uma batalha, um deles, em nome do filho pacifista, propôs um acordo e o outro respondeu: Ora, a guerra é o divertimento dos reis. Por ironia do destino, esse rei morreu no dia seguinte, na batalha que se recusou a evitar, e o filho do outro, pacifista, foi morto tempos depois a mando do próprio pai, Pedro, o Grande. Essa resposta revela, através da história, o valor que os reis guerreiros dão às pessoas do povo que combatem por eles. Na vida civil, o trauma pessoal origina- se das desigualdades sociais, dos desvios da normalidade, da impunidade que incentiva o crime. As pessoas comuns, que matam na paz, sem razão, têm o mesmo desprezo dos tiranos pela vida humana.