Territórios de trânsito” é um trabalho de fôlego que expressa uma problemática contemporânea de grande relevância, os processos de desreterritorialização – o desfazer e refazer constante de territorialidades – envolvendo grupos subalternos e hegemônicos numa das regiões mais emblemáticas do país, verdadeiro laboratório para uma geografia desses ir-e-vires territoriais de confrontos e conflitos, a fronteira entre o Brasil e o Paraguai. (...) É justamente com o debate sobre essas várias conotações de fronteira que o autor se defronta logo no início de sua reflexão teórica, numa sistematização minuciosa e densa que traz uma contribuição muito importante para os estudos fronteiriços, tão em voga nos últimos tempos, dentro e fora da Geografia. Isso porque vivemos, sem dúvida, em diversas situações, uma condição de fronteira ou, como afirmo, de “vida no limite”, como se fôssemos instigados ou, na maioria das vezes, dada a condição social majoritária de subalternizados, fôssemos forçados a transitar entre diferentes territórios/territorialidades como única forma, muitas vezes, de garantia da sobrevivência cotidiana. (...) Marcos Mondardo aborda assim a trama que ao mesmo tempo reúne e separa “gaúchos” (na multiplicidade de sua condição de classe, mas destacando a ação dos grupos hegemônicos, concentradores de terra/capital), paraguaios (também socioeconomicamente múltiplos, mas majoritariamente subalternizados, especialmente quando de sua migração para o Brasil) e indígenas (historicamente “excluídos” e/ou precarizados). Esse amálgama entre distintas classes sociais e grupos identitários (seja nacionais ou étnicos) é um desafio que o autor enfrenta com rigor e habilidade. Do Prefácio do Prof. Rogério Haesbaert