Este segundo livro de Sandra Niskier Flanzer, publicado dois anos após a pa-lavra, reverbera a modulação de seu trabalho com a linguagem, revelando, de maneira franca, a escuta do leitor como elemento decisivo para que a escrita se transmita e traga à fala o que, não raro, permanece sem ser dito. Uma vez mais, a alternância entre escritos lineares e em versos dá margem à recorrência de um modo de fazer literário com que a leitura deve arranjar-se, o que, sem minorar o interesse pela compreensão, leva ao surgimento de novos encadeamentos pela voz de cada um que a realiza. Como se pode apreender de maneira exemplar em "Verborragia", a disjunção entre a escrita que retorna e a que segue adiante não anula nem resolve a indecisão entre som e sentido: entre travessões, como os dois lados de uma balança, o título do livro, ao ser lido num átimo, em justa medida, deixa à vista tanto o caminho de volta quanto as linhas que rumam em direção ao horizonte. No meio da obra, ainda sem sua vírgula, por um segundo escande, com sua grácil beleza, o instante em que o fio da linguagem revira e nos faz, a cada vez, várias vezes nesta obra, renascer como seres apalavrados. "E era véu de ser visto assim, pairando nos ares do tempo, para que não encobrisse coisa alguma que procurasse arejar. Sem parada premeditada, sem porto certo, só de passagem. Circulando sua transparência e deixando-se enlevar e levar por ondas invisíveis que beiravam a inexistência, bailando junto ao vento como se pudesse, finalmente, jamais chegar." Sandra Niskier Flanzer