Quando Amalia tinha 12 anos, gostava de frequentar a casa da vizinha. Por lá, havia uma piscina no quintal, o desejo maior em meio ao verão implacável de Buenos Aires. Mas havia também um filhote de jacaré. O réptil era pequeno e, no entanto, sua boca assustava. Quando alguém esboçava um mísero pavor, ouvia dos donos da casa: Não tema, é inofensivo. Nada que se mexa, que tenha fome ou que sinta cheiro pode ser assim tão livre de causar algum tipo de receio. Ser alvo da animalidade a nossa e a alheia é o destino implacável de todos. Essa é a ideia por trás de Estamos a salvo, reunião de dezessete contos afiados como caninos da escritora argentina Camilla Fabbri, um dos grandes nomes da atual literatura latino-americana. Os olhos do jacaré eram aquosos e mornos, como os de quem acaba de chorar e não quer que se note. Ela percebeu certa agitação no animal, queria demonstrar compreensão e passou a mão através do limiar dourado, arrepia-se a personagem do conto Sobras. Entre os (...)