Pedófilo ou não? Não há uma resposta definitiva nas quase 700 páginas da extensa biografia do ícone Michael Jackson, mas o autor, íntimo do mundo das celebridades, não deixa dúvidas: Michael Jackson é uma pessoa extremamente perturbada. Resultado de 30 anos de pesquisa e centenas de entrevistas, várias com o próprio Michael - o livro de J. Randy Taraborrelli faz um histórico detalhado da carreira do astro e principalmente de seu histórico pessoal e familiar. O biógrafo, autor de vários livros, entre eles Madonna - uma biografia íntima, lançado no Brasil pela Editora Globo, mostra os bastidores de uma carreira que marcou o mundo do show business: os primeiros anos como astro-mirim na gravadora Motown, a "declaração de independência" em relação ao pai e aos irmãos, o histórico do famoso passo "moonwalk", a caminhada para trás, a gravação do vídeo "We Are the World", a concepção de Thriller e a esperteza ao adquirir os direitos sobre as músicas dos Beatles - idéia que surgiu numa conversa com o próprio Paul McCartney, que se arrepende amargamente dela até hoje. A narrativa, atualizada até 2004, quando Michael Jackson já estava sendo acusado judicialmente por Gavin Arvizo, no caso que provocou sua prisão em 2003 e o levou ao tribunal, vai fundo na descrição da relação do cantor com outro garoto, Jordie Chandler, dez anos antes. O relacionamento entre os dois só não foi a júri porque Michael aceitou, depois de muita relutância, pagar US$ 20 milhões à família do menino. Mas as conseqüências para o astro não foram poucas: o estresse levou Michael à dependência de analgésicos, que culminaria com sua internação em uma clínica de desintoxicação. O livro mostra como Michael Jackson comprou a confiança da família do menino Jordie Chandler, então com 13 anos, com presentes caríssimos. Sua fragilidade funcionava como arma: foi com lágrimas que convenceu a hesitante mãe do garoto de que não havia nada de errado no fato de os dois dormirem na mesma cama. Taraborrelli conta que Michael se tornou tão dependente do relacionamento com Jordie que, poucos meses depois de conhecê-lo, soluçou como uma criança no aeroporto, por não suportar ter de ficar cerca de uma semana longe do "amigo". Embora esta seja a amizade descrita com mais profundidade no livro, houve vários outros meninos como ele. Eram companhia constante de Michael Jackson até mesmo quando ele estava casado com a única mulher que amou, Lisa Marie Presley, que, apesar de amá-lo, não suportou seu estranho comportamento. Há Neverland, o rancho californiano batizado em homenagem ao ídolo Peter Pan, que é uma mistura de zoológico com parque de diversões, onde tudo é de graça e girafas passeiam ao som da música de filmes da Disney. O quarto de Michael, decorado com manequins e um trono, já teve um berço, onde dormia Bubbles, o chimpanzé. Na sala, dentro de uma vitrine, um vestido usado por Diana Ross, uma de suas muitas divas, enfeitado com luzinhas cor de rosa. Com uma documentação acima de qualquer suspeita, o biógrafo vai desvelando um Michael Jackson cada vez mais fragilizado com o passar dos anos - um homem já de meia-idade que, mesmo casado com a única mulher que realmente amou, não conseguiu resistir à amizade com meninos. Ao final, o leitor consegue até compreender, sem muita dificuldade, por que alguém tão famoso e bem-sucedido seria capaz de comparecer a um tribunal de pijama.