Pode-se dizer que eles escrevem certo por linhas tortas, os nossos caricaturistas reunidos neste livro - de Araújo Porto-Alegre, o primeiro a surgir no Brasil, até Angeli, o último e mais jovem da seleção. Apesar da aparente deformação dos traços, a história que contam, os personagens que descrevem costumam estar mais próximos da verdade do que a história oficial. Não se deixe iludir pelas aparências: as distorções não mentem. Podem hiperbolizar, me geral acentuam ou exageram, daí a graça, mas não inventam ou criam a partir do nada, daí a eficiência do gênero. Qual segredo dessa arte quase primitiva, capaz de sobreviver na era da imagem - da foto, do cinema, e da televisão? Por que ela continua mais corrosiva do que o realismo da fotografia, ela, que é a arte da deformação? Que força é essa que tem a caricatura, que, na era da tecnologia, continua precisando apenas da ponta de um lápis - e de toda a liberdade do mundo? O país pode não gostar de mostrar a sua cara, não tem importância: a caricatura mostra.