Otto Lara Resende contava do dia em que, diante das alarmantes notícias sobre uma greve geral, o amigo Rubem Braga lhe telefonou e convidou-o a ir ao Bar Luiz. Vamos ver a crise de perto, propôs. O episódio ilustra a peculiar lógica do cronista. A ele interessam as miudezas, que quase sempre, num aparente paradoxo, têm o poder de iluminar o quadro geral. Pois Carlos Castelo é um dos mais brilhantes em atividade. Seja nas máximas cheias de verve e ironia, seja nos textos mais longos, papeia com o leitor como se estivesse à mesa do bar, de bermuda e chinelos, sob a brisa fresca da tarde. Se há forma melhor de se conversar, desconheço. Marcelo Moutinho Carlos Castelo é um ótimo cronista. Admiro seu estilo calmo, sem pressa, de quem sabe conversar (sem nunca gritar) com o leitor. Pode ser muito engraçado, mas em geral seu humor é discreto vence por pontos, não por nocaute. Pode ser lírico, até. De um lirismo suave, pouco dramático, em sintonia com o país de Rubem Braga e João (...)