Em qualquer cidadezinha, enterro é evento pra ir todo mundo, cachorro, pessoas e também crianças, sem distinção nenhuma, conhecidos ou não. Nessa cidadezinha em particular, o morto é seu Jeremias, e as crianças são Dora e Esmê, duas primas inseparáveis, cuja alegria não é abalada nem pelo defunto ali diante delas. Pelo contrário, as duas se ocupam de um santinho pendendo do bolso de Jeremias, num jogo de cumplicidade e graça. O pequeno episódio, que de alguma forma irá marcar a vida de ambas, é um retrato bem-acabado dessa relação incomum. Dora foi criada sem a mãe, e por um pai entregue à solidão e à apatia, um ente silencioso que vive na penumbra. Desse lar fantasmagórico, Dora salta todos os dias para a vida ao lado de Esmê, sua abertura para o mundo lá fora, acompanhada também pelos vizinhos e por Joana, a amiga-desatino.