Para o escritor e jornalista Luís Antônio Giron, o pesadelo pode ser uma forma de arte. Pelo menos é o que ele propõe nos contos que compõem o volume 'Até nuna mais por enquanto' , sua primeira incursão pela narrativa curta. Fugindo ao realismo que vem dominando a prosa contemporânea, Giron lança mão de uma linguagem vertiginosa e dos mais variados recursos da intertextualidade para dar vida a tramas nas quais seus personagens estão sempre caindo em precipícios, amando sem ser amados e, invariavelmente, sendo assediados pelo horror e pelo medo da linguagem. Linguagem esta que atravessa os contos cumprindo uma função de personagem dramático. Os contos de 'Até nunca mais por enquanto' , geralmente curtos, com exceção de "Letra morta", fogem ao convencionalismo porque seu autor dá prioridade à invenção, esforçando-se para fugir de uma ficção realista que tende a relegar a literatura à velha condição de arte mimética. Este efeito fica claro, por exemplo, no conto "Braço forte em teu peito", no qual os alunos de uma escola recebem a visita de militares. O leitor reconhece facilmente o enredo proposto, passado em algum momento da ditadura; mas a forma como a situação é narrada certamente vai deixá-lo desconcertado. As descrições das cenas de violência são elaboradas num registro tão vertiginoso e hiperbólico, que o aparente realismo de uma cena banal é estilhaçado em fragmentos. Giron alcança, assim, o seu verdadeiro desejo - com uma linguagem contorcida, arrancar o leitor dos seus sonhos mais lindos e carregá-lo para o círculo dos pesadelos.