clóvis campêlo é daqueles escritores que se revelam sem qualquer embaraço. a paixão pela cidade do recife, o cotidiano, as personalidades do seu tempo e outras que povoam o seu universo cultural, os fatos ocorridos transformam o homem no escritor e o escritor num pássaro de asas de grandes dimensões, qual sobrevoa as memórias da sua própria existência para produzir narrativas apaixonadas e, sobretudo, apaixonantes. crônicas recifenses é antes de tudo, um livro de pura sensibilidade e inteligentíssimo, que guarda na sua estrutura literária um exercício da melhor prosa poética extraída de coisas aparentemente simples, comuns e corriqueiras do cotidiano de uma cidade, de personalidades que marcaram épocas, de fatos diversos e da vida do próprio autor. john updike, na sua notável concepção acerca do fazer literário, diz que “os detalhes são divinos”, como modo de apreciar a narrativa. nesse sentido, o que aparentemente é simples, comum, realça toda a narrativa deste livro com a divindade dos detalhes tão bem manejados pelo autor. é um texto livre como uma experimentação, no qual clóvis se permite a certas ousadias impulsionadas pelo seu gênio criativo. talvez a arte da escrita seja a que mais embriaga de paixão os seus vocacionados. é assim que clóvis campêlo se revela: um escritor embriagado de paixão pela literatura. um escritor engajado, um criador incansável, que tem produzido um magnífico acervo literário ao longo dos anos. crônicas recifenses é apenas uma parte desse acervo que agora chega às mãos do público leitor. numa época em que se verifica a produção cultural e a forma de consumir bens culturais, transformando-se tão radicalmente e em tão curto espaço de tempo, refletindo diretamente nos processos de decisões do consumo de bens (culturais) e, consequentemente, estabelecendo um padrão artístico de sedução, de baixa qualidade crônicas recifenses chega como um saboroso alento para cultura pernambucana e brasileira. e porque não dizer, um brinde à arte! c