As bibliotecas públicas pela sua natureza e missão são consideradas espaços de informação, leitura e memória a serviço da sociedade de forma indistinta. Porém, ao longo de sua emergência no Brasil foram pensadas e organizadas para atender a elite branca. Durante séculos ela se constituiu como espaço inacessível às comunidades pobres, aos negros e as mulheres. Somente a partir do Século XX as bibliotecas Públicas passaram a construir políticas democráticas visando socializar seus acervos e atender os diversos segmentos sociais. A partir dos anos oitenta com a redemocratização do País, muitos esforços para fazer das bibliotecas públicas um espaço aberto, criativo, de construção e fortalecimento das comunidades tem sido inúmeros, porém, nesses esforços há lacunas, vácuos que precisam ser repensados e reparados. O livro de Francilene Cardoso mostra a necessidade urgente de revisão das estruturas conservadoras que permanecem na sociedade. Dentre elas as bibliotecas públicas que ainda não ouviram os clamores das ruas, não romperam com os silêncios históricos que isolam as bibliotecas das pessoas, encastelando-as como espaço elitizado e inacessível. Os resultados da pesquisa de Francilene Cardoso, tão bem apresentados neste livro, servem de alerta para a Biblioteca Publica Benedito Leite e outras tantas bibliotecas espalhadas pelo Brasil que ainda não conseguiram compreender as contradições deste País e reparar as dívidas históricas que tem com determinadas populações, em especial a população negra que ao longo dos séculos vem lutando por reconhecimento de sua identidade e cultura. As bibliotecas podem contribuir com este reconhecimento na medida em que construírem acervos e estimular as populações negras a fazerem parte de um projeto de mudança a partir de programas de leitura e que levem em conta as diversidades. Somente com projetos voltados para o fortalecimento destes segmentos sociais é possível retirá-los do silêncio histórico que ainda as mantêm isoladas. O livro de Francilene Cardoso é um alerta a todos nós bibliotecários comprometidos em escrever uma nova história sob a luz da igualdade e do acesso e democratização do conhecimento e da informação.