Em Rinha de galos, seu primeiro livro de contos, a equatoriana María Fernanda Ampuero seleciona um texto do poeta argentino Fabián Casas como epígrafe para, de alguma maneira, antecipar o que virá nas páginas seguintes: “Tudo que apodrece forma uma família”. Este é um livro sobre os laços e sua brutalidade quando se rompem, quando são atravessados pela perversão; um livro sobre como o espaço familiar, que deveria ser de proteção e segurança, é, em muitos casos, o lugar no qual se concretizam as violências mais indescritíveis, aquelas que deixam cicatrizes permanentes. “À noite, galos gigantes, vampiros, devoravam minhas tripas, eu gritava, e ele vinha à minha cama e voltava a me chamar de mulherzinha”, escreve em “Leilão”, o primeiro e chocante relato, que põe em primeiro plano o corpo e sua vulnerabilidade.