Os poemas de Dyl Pires aqui reunidos podem a princípio soar melancólicos. Mas é só aparência. A velha melancolia poética não parece ser a melhor chave de leitura para os enigmas e desconcertos que eles propõem. Aos poucos, estes poemas revelam sua afinidade mais profunda com uma forma delicada e incisiva de sabedoria que remonta à certa tradição mística e poética oriental mas não menos a alguns dos assim chamados filósofos pré-socráticos. Dyl Pires leu e pesquisou durante um tempo a tradição poética do haicai e aqui acena também à contundência poético-filosófica de Orides Fontela. É menos melancolia que essa sabedoria de faquir que guia e dá o tom dos poemas. O poeta se assume como uma espécie de artista da fome que transita por esse nosso mundo inflamado mas frio, um mundo ora em chamas, ora em cinzas. A cidade, com sua junção contemporânea de explosão e deserto, de supermercado e desamparo, se anuncia como o espaço por onde o corpo do poeta se arrisca, onde ele põe à prova a (...)