Leio o fio invisível dos dias enquanto estou confinada. Leio em um tempo sem espaço em que os dias parecem perder a meada. Através dos poemas passeio. Reconheço o burburinho da minha cidade, suas falhas, a materialidade que nos esmaga, as brechas pelas quais nos lançamos. É enquanto um corpo que também se lança que Mariana Imbelloni escreve. Como as mulheres que cochicham na sua estante, sua escrita se dá na ordem do enquanto. Ela escreve enquanto adivinha os incêndios diários que tomam o Rio de Janeiro. Enquanto está em pé no transporte público. Se segurando como pode. Isso quando pode. Quando os muros não sustentam um silenciamento. Quando não é confundida com outros corpos na rotina sufocante do metrô. Quando não é coagida a rearranjar os desejos em cômodos cada vez mais apertados. Mariana escreve enquanto é furtada de poder. É no momento em que as saídas se mostram do tamanho de uma fresta que o poema se lança. Sua escrita costura a rotina com os fios desconexos do possível.[...]