Alquimista na Chuva inaugura oficialmente a poesia de Assionara Souza. Quem conhece a sua prosa de ficção, extensa e vária, sabe que a veia poética já existia aqui, ali, entrelinhas. Ainda assim, é capaz de surpreender-se com o alvoroço que ela causa. Mesmo quando avisa: volume baixo, cool jazz / pois não estou para alaridos. Nela, há um exercício premeditado de estilos muito diversos. Algo que jorra como um fluxo de consciência anárquico, em que o lirismo se mistura à sátira, o romantismo junta-se ao drama, o realismo passeia de mãos dadas com o lirismo: a porta do elevador se abre / vou pra rua / imagina uma câmera / que filmasse / os últimos dez anos / dentro dessa cápsula da paixão / as noites de sexta a domingo / e as segundas-feiras insones / a moça do 801 indo e vindo / imaginou?. Assombrosa, também, é a quantidade de pistas que este longo poema permite sobre personagens conhecidos (músicos, poetas) e sobre nós, as amigas ocultas em versos como tudo é inédito, meu bem / mal te conheço e já te faço confissões. Ou fuja das poses fakes, funny / o mal desse amor (e desse e desse e desse) / foi ser imune à minha loucura / testei todas as munições. Ainda, não chega perto que eu acendo, funny / [adoro se(e) me chama assim]. E, especialmente, minha amiga medita / é adepta da filosofia zen / eu também / daqui a cem anos talvez minha amiga tem dentes lindos / e sabe nomes de flores e frutos e árvores. Sim, ela sabe. Sabemos.