Os trabalhos históricos de Farias, e sobretudo Ott (bastante rigorosos e fiáveis), revelaram, suficientemente, a extensão e a gravidade do compromisso nazi de Heidegger. A estratégia de recusa dos seus partidários consistiu, como se sabe, em separar a obra da pessoa. A brilhante obra de Wolin opõe-se a tal esforço, não reduzindo a teoria à biografia, mas mostrando a presença, entre a filosofia de Heidegger e as suas tomadas de posição políticas, de um sistema de vasos comunicantes. Num primeiro momento, Wolin analisa as afinidades de Sein und Zeit com o anti-modernismo dos mandarins alemães, fundadas sobre as oposições entre Kultur e Zivilisation ou entre Gemeinschaft e Gesellschaft. Assim, nos anos 20, Heidegger estaria próximo do romantismo anticapitalista. Wolin sublinha que o seu objectivo não é projectar as escolhas políticas de Heidegger, em 1933, sobre os seus escritos filosóficos dos anos 20, mas mostrar a lógica interna da sua evolução. Contudo, chega, por vezes, a sugerir uma ligação, mais ou menos directa entre este tipo de antimodernismo neo- -romântico e o compromisso nacional-socialista de Heidegger. Wolin constata, igualmente, que o quadro existencial formal e abstracto de Ser e Tempo, com o seu deliberacionismo vazio de conteúdo intrínseco, teria podido conduzir o seu autor tanto para o bolchevismo como para o nacionalismo.[...] Salutar provocação, este livro apaixonante reúne compromisso lúcido e erudição atenta. [...] Esta obra é importante: é a tentativa, até agora mais séria e profunda de pôr em evidência as complexas e ocultas ligações entre a filosofia de Heidegger e a sua política." Michael Löwy. RICHARD WOLIN é doutor em Pensamento Político e Social, pela Universidade de York, em Toronto, é, presentemente, professor de História na Universidade de Rice, nos Estado Unidos. Autor de inúmeros artigos e livros entre os quais Labirintos, publicado pelo Instituto Piaget