A princípio, esse romance parece tratar de amor e desejo – de um poeta que se derrama sobre sua musa em busca de obtê-la e de uma musa que assume seu desejo na ausência do poeta. No entanto, a Literatura visceral de Evandro Affonso Ferreira acontece nas entrelinhas, quando a linguagem – que parece submeter-se às demandas internas das personagens – vai se desvelando, pouco a pouco, para exibir-se nua como verdadeira amante da narrativa. É a palavra a grande personagem desse romance. No início, ela assume um caráter lírico e romântico para, ao longo da obra, flertar com a aridez e o niilismo. Em determinado momento, percebe-se que não são mais as personagens que se servem das palavras para falar de amor, mas o contrário: o ethos da linguagem funda os caminhos amorosos a partir de seus parâmetros, numa vertigem que domina tanto o poeta quanto a musa.