“Aos 80 anos de idade, eu havia respirado a vida em demasia. E me cansava das vozes dissonantes em minha cabeça. E ficava entediado com os desejos humanos em meu corpo, com os ritos diários de me levantar, me lavar, comer, beber e dormir. Das ideologias, das palavras mortas nos livros, das horríveis imagens repetidas na paisagem urbana, dos meus gestos e movimentos automáticos, dos gritos contidos dentro de mim. Eu estava cansado de todos os gritos que não tive coragem de gritar, de tudo que fora abafado pela onda frenética do tempo.” “A vida é um palco, e todos somos atores. Outro clichê, eu sei. Mas se formos um pouco além do óbvio, quem sabe poderemos perceber que brincar com máscaras talvez seja o melhor a se fazer para não correr o risco de cravar na pele máscara única. Qual é a máscara que me cabe? Com o tempo, a gente se esquece no espelho. O que é máscara? O que não é máscara? O rosto se conforma com a forma do traiçoeiro.”