"Pelo que os netos dos vaqueiros me contaram, não é difícil concluir que tanto os coronéis como seus supostos opositores integraram a linha de frente da modernidade brasileira. A pobreza do sertanejo nordestino seria uma das faces desta modernidade. Neste sentido, o país não inovaria: a civilização moderna, produtora das comunidades conhecidas desde a segunda metade do século XIX como "nacionais", acionou sofisticados recursos literários para encobrir as desigualdades perversas que lhes são inerentes. A responsabilização dos potentados locais pela pobreza do interior, à revelia da fragilidade empírica e das intenções de seus propositores, apenas encobre os efeitos deletérios da modernização e dilui a responsabilidade dos que ditaram os rumos do país. Às elites nacionais hegemônicas devem ser cobradas as conseqüências sociais da divisão espacial do trabalho geradora de grotões. Os potentados das áreas empobrecidas atuaram em desfavor de sua gente porque acompanharam as oligarquias brasileiras na promoção de uma modernidade que combinou desenvolvimento com desigualdades sociais e regionais."