Como, se, e sob que condições uma ‘grande arte’ (ainda) é possível hoje? Essa é a pergunta de matiz transcendental formulada por Philippe Lacoue-Labarthe (1940-2007), em Musica ficta (figuras de Wagner) (...). O ponto de partida ausente do livro é o acontecimento-Wagner, em seu tempo, isto é, a proposição da ‘obra de arte total’ no horizonte temporal que esta proposição abriu para a música ocidental europeia. A resposta de Lacoue-Labarthe é taxativa: uma ‘grande arte’ não deveria, e rigorosamente não poderia hoje existir. A razão da negativa é, portanto, de natureza ética. A pergunta não é feita diretamente a Wagner, ela nos vem refratada indiretamente pelo viés de quatro ‘críticas’, que são, na verdade, quatro enfrentamentos com a proposição wagneriana de ‘grande arte’, de dois poetas franceses, Baudelaire e Mallarmé, contemporâneos de Wagner, e de dois filósofos alemães, Heidegger e Adorno, posteriores a Wagner. O ‘hoje’ da pergunta inicial deve ser, portanto, atualizado segundo os diversos tempos desses críticos, estendendo-se até os dias de hoje, a ambição intemporal do conceito de ‘grande arte’, desde sempre posta em dúvida, sendo a de que ela permanece para nós ainda hoje (em 2016 e adiante) uma questão."Como, se, e sob que condições uma 'grande arte' (ainda) é possível hoje?" Essa é a pergunta-chave formulada por Philippe Lacoue-Labarthe (1940-2007), em Musica ficta (figuras de Wagner). Sua pergunta tem como ponto de partida o programa wagneriano de "obra de arte total", que almejava, através de suas composições operísticas, reencontrar na modernidade o espírito "religioso" e totalizante da tragédia antiga. Lacoue-Labarthe responde categoricamente à pergunta inicial: por razões ético-políticas - que não deixam de ser motivadas pelos eventos totalitários do século XX -, a "grande arte" não deveria e não poderia existir hoje. Mas Lacoue-Labarthe não responde sozinho a essa questão. O livro é composto por quatro cenas, cujos protagonistas são dois poetas franceses, Baudelaire e Mallarmé, contemporâneos de Wagner, e dois filósofos alemães, Heidegger e Adorno, posteriores a Wagner. É com eles, com a complexa e ambivalente relação que cada um deles constrói com a música do mestre de Bayreuth, que Lacoue-Labarthe se insurge, de certa forma, contra ele - ou ao menos contra as "figuras" que sua obra serve, ou sacraliza.