O jogo tinha finalmente começado. Ao agachar-se para ver as colônias brancas de seu fungo predileto brotando no fundo do latão com comida para peixe, Odilon da Silva Nunes era apenas um médico. Ao levantar-se, havia se transformado no cientista que queria ser desde os tempos de menino em uma fazenda de café. O bolor branco concedia ao homem de 37 anos os meios para formular um medicamento apto a deter o crescimento de células tumorais e testar a teoria guardada no cofre e na memória. Ao mesmo tempo, o pequeno ser de filamentos brancos definia as regras de quem serviria a quem, ao fazer o homem agachar-se, sacrificando a liberdade em nome do desejo, e exercer a humildade que teria de ter nas décadas seguintes para atender a seus caprichos.