Romance da Prêmio Nobel de Literatura reproduz a tensão, a desconfiança, a rotina de medo e transgressão de jovens que viveram durante a ditadura comunista de Nicolae Ceauþescu Herta Müller adianta no início de seu romance: "Carregamos no rosto o que levamos de uma terra". No caso da autora, sua terra permanece não apenas no rosto, mas também nas palavras e na narrativa de Fera d'alma, novo livro de Müller publicado no Brasil pela Biblioteca Azul. Vencedora do Nobel de Literatura, a escritora foi reconhecida por, utilizando-se da "concentração da poesia e a franqueza da prosa, retratar a paisagem dos desapossados". No caso deste romance, jovens privados de seus desejos e mesmo de sua individualidade, que vivem sob o regime comunista de Nicolae Ceauþescu, ditador que governou a Romênia de 1965 a 1989. O grupo de jovens é formado por estudantes que, vindos de províncias pobres, buscam melhores perspectivas na cidade - onde se tornam parte da massa uniforme de temerosos súditos do Conducator, da qual tentam diferenciar-se e separar-se por meio da leitura de livros proibidos e planos de fuga. Sua união é marcada pela desconfiança que trazem em todas as esferas de suas vidas, traço caro à sobrevivência de quem lida com a constante vigilância do Estado e da polícia secreta. "Cada linha deste livro carrega histórias (ou não histórias) de vidas aniquiladas por um regime de exceção, neste caso a Romênia comunista de Nicolae Ceauþescu, terra anteriormente dominada pelos nazistas", diz o escritor Juliano Garcia Pessanha sobre a obra.