Um ano após a tragédia no jornal Charlie Hebdo, Michel Maffesoli, com o arcabouço científico e a erudição que conhecemos, ousa compreender a questão. Será necessário dizer tudo, falar sem limites, chegar até mesmo à blasfêmia, arriscando destruir o que funda a comunidade, esse tácito consenso em torno de valores compartilhados? Ele se empenha em compreender o retorno do “sacral”, essa necessidade coletiva de comunhão emocional, de religação, de irrupção de si no Outro, no outro da comunidade, do cosmo, da deidade. Para levar a cabo essa reflexão delicada, intuitiva e espiritual, Michel Maffesoli procede como os teólogos medievais que ele tanto adora consultar: de Deus, do divino, não se fala senão por evitamento. Teologia apofática que ele aplica ao que denomina alternativamente o divino social, a religiosidade circundante, causa e efeito do “sacral”.