Sempre que a cultura, a sensibilidade, a imaginação e a criação poéticas estiveram adormecidas ou anestesiadas, andaram arredias ou foram escorraçadas da cidade, as superadoras saídas para os fundamentais problemas do homem e da humanidade ficaram irremediavelmente comprometidas... Por tudo isso, ouso questionar à face dos homens e à luz do sol: sem a "pasión crítica" que tenta interpretar e explicar a magia, "el poder eléctrico" incandescente e fulminante das palavras, "la repentina aparición de frases caídas del cielo", os "signos en rotación" na inestancável mobilidade da linguagem e das línguas, para assim melhor compreender os enigmas e os labirintos e os segredos e os mistérios do homem e do mundo, sem a "corriente alterna" que alimenta as "máquinas transparentes del delírio" que são os livros e que faz mover "el arco" e tanger "Ia lira" na execução das humanas partituras, sem a sabedoria criadora e iluminante dos poetas, sem o inconformado grito de alerta dos profetas, sem as fulgurações que irrompem da arte e do sagrado, sem a freática e edáfica uberdade das matrizes mais genuínas, mais fundas e mais fortes do pensamento e da cultura de todos os povos e de todas as gentes, pergunto: será possível governar orquestralmente a polis ou dirigir sinagogicamente e com justa equidade e fraterna solidariedade este planeta outrora azul? FERNANDO PAULO DO CARMO BAPTISTA é natural de Viseu. Formou-se em Filologia Clássica pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Jubilado depois de mais de 40 anos de exercício de funções públicas na docência (ensino secundário e ensino superior) e na orientação e inspecção pedagógicas, é, desde 1998, professor e investigador do Instituto Piaget (Campus Universitário de Viseu), onde, além da organização de congressos, coordena as actividades do Centro de Investigação em Língua Portuguesa (CILP), designadamente, a investigação direccionada para a elaboração de dicionários e manuais especializados, a serem editados pelo Instituto Piaget. Tem vários estudos e ensaios publicados nas áreas da língua e da literatura portuguesas, da linguística, da semiótica, da pedagogia e da didáctica.