Eurípides, 'o mais trágico dos trágicos', compôs suas tragédias em Atenas na segunda metade do século V a.C., período de intensa efervescência política e cultural. Essa época, na qual a tradição é fortemente questionada, reflete-se nas peças desse autor, as quais dificilmente oferecem certezas seguras para os leitores atentos. É o caso de Hécuba e Troianas. Ambas são compostas pelos acontecimentos que se abatem sobre as prisioneiras troianas, em especial, as mulheres da casa real, logo após o final da guerra de Tróia. Tragédias bastante distintas, porém. Nas duas, contudo, se revela, de modo agudo, a essência da tessitura trágica, toda ação implica, também, sofrimento. Agir e padecer são faces da mesma moeda. Mesmo assim, o autor parece lançar um desafio - onde, em um momento extremo como a total derrota de um povo numa guerra, pode tremeluzir a liberdade?