Arqueologia Queer. Duas Rainhas, um Príncipe e um Eunuco aponta ao leitor brasileiro a importância desta nova disciplina, que busca marcas das diversidades sexuais nos vestígios materiais. Posicionando-se politicamente, delata a persistência da homofobia na arqueologia atual, motivo pelo qual seu estudo não se foca apenas em desvelar sexualidades pretéritas sob novos enfoques, mas, sobretudo, em analisar os discursos feitos sobre as evidências destas sexualidades. Ora, “des-homossexualizar” vestígios de homoafetividade é prática recorrente: assim, na tumba egípcia da 5ª dinastia, ca. 2400 a.C., em vez de um casal homossexual, os manicures Niankhkhnum e Khnumtohep são vistos como irmãos gêmeos; o possível casal lésbico interétnico (dáunio-samnítico), encontrado na tumba 607 de Lavello, Basilicata, sul da Itália, ca. 400-350 a.C., é apresentado como duas mulheres da mesma família ou grandes amigas. As representações de Boudica, rainha icênia que enfrentou Nero, são escrutinadas pelo autor, levando-nos da Boudica antiga, de Tácito e Díon Cássio, à Boudica moderna, heroína nacional inglesa. Num crescendo arrebatador, Pinto, partindo da impactante notícia da ossada de Catterick, NorthYorkshire, séc. IV d.C., de um corpo masculino em atributos supostamente femininos – de um suposto gallus, sacerdote transexual da deusa Cíbele –migra do campo arqueológico à apropriação política por sites trangêneros e transexuais e pelo movimento LGBT. Discorrendo sobre o dito a respeito do “transvestitepriest”, o “cross-dressingeunuchpriest”, o “CrossusDressus” (risos!), revela texto hábil e bem humorado, mas contundente ao desnudar as tramas políticas que envolvem a arqueologia da sexualidade. Fábio Vergara Cerqueira (UFPel)