O "Tintoretto" de Sartre inscreve-se na série de conversões da pintura à escrita propostas nos últimos cem anos por alguns dos maiores escritores franceses do período: a dos mestres do Renascimento nórdico, Matthias Grunewald e Robert Campin, que em 1904 ressuscitavam no velho J-K Huysmans "alegrias profanas e alegrias sagradas"; a pintura holandesa do século XVII em que Claudel descobre a densidade mística do silêncio; a de Manet, pela qual Bataille faz nascer a arte moderna, sobre cujos limites e destino, a propósito de Degas, Valéry viria a meditar. Um tema, diz-se, elege seu autor ao menos tanto quanto é por ele eleito e os casos acima mencionados não fazem senão confirmar a verdade dessa velha intuição. Mas, e Sartre? O que nos revela, desta química do tema e de seu escritor, seu "sequestro" de Tintoretto?