Apontada como uma das gratas revelações da literatura brasileira atual, Elisa Lucinda, em Contos de Vista, brinca com as palavras, sacode o leitor, ironiza situações, mas faz sobretudo uma apaixonada declaração de amor à vida. Uma declaração que parece se estender além das palavras e pulsar num grande palco talvez, o palco da vida,denunciando assim a múltipla sensibilidade e variedade de seus caminhos: atriz de teatro, cinema e televisão, autora teatral de sucesso (sua peça O Semelhante ficou seis anos em cartaz, no Brasil e no exterior), poeta que encontrou um jeito novo de popularizar a poesia, num tom coloquial, meio mágico, meio apaixonado. Escritas em épocas diversas, as dezesseis histórias de Contos de Vista têm a unidade espiritual de quem olha a vida com profundo interesse, atenta a dramas e comédias, mas sempre com um humor sadio, sem amarguras. Várias delas reproduzem, com plena evidência, situações vividas pela autora, mas o elemento autobiográfico não tem maior significado. Para Elisa Lucinda, experiência e imaginação se equivalem, não fosse ela, acima de tudo, poeta.Não deixa de ser curioso que vários contos do livro têm como personagens principais motoristas de táxi, envolvidos em situações ora grotescas ora surpreendentes, como no divertido e inesperado "Pelo Cheiro", ou em confissões repletas de despeito, como em "Mulher é o Diabo". Mas o táxi da vida corre em todas as direções e a autora tem sempre um olho atento para todos os lados e situações, o comum e o insólito. Como no conto "Denise", em que o amor mais puro de duas meninas gira em torno de uma lata de goiabada, ou a experiência indefinível da menina ao ver a avó matar um peru para a ceia de natal ("Lembrando Parece Cinema"). Os Contos de Vista estão, sobretudo, repletos de vida.