Para realizar a difícil tarefa evangelizadora, que envolvia o trabalho de tradução, os missionários jesuítas dos séculos XVI e XVII tiveram que produzir uma 'língua geral da costa'. A descontextualização lingüística resultante produziu significações peculiares no ponto de vista cultural, de tal maneira que a nova gramática e a nova semântica poderiam ser entendidas no interior de um processo histórico de encontros de culturas. O 'outro' (a diversidade cultural) e o 'mesmo' (a ortodoxia religiosa) se verificam, a partir do século XVI, nos catecismos elaborados nas línguas exóticas americanas. Tais registros evidenciam não apenas a redução da alteridade indígena na perspectiva literário-religiosa ocidental, mas também o alargamento dessa mesma perspectiva pela necessidade de incorporação das instituições mítico-rituais dos índios.