Pôr em diálogo autores como Gaston Bachelard e Nicolai Hartmann, que nunca conversaram, parece inicialmente uma tarefa desprovida de interesse. Contudo, eles pensam o “mesmo”. É precisamente essa a condição necessária para estabelecer um diálogo entre dois pensadores. De fato, ambos os autores pensam a clareza e operatividade do conhecimento científico, bem como, por razões diversas, sua insuficiência. É inquestionável o apreço comum pelo rigor e pelo poder operatório da atividade científica. Como é de conhecimento geral, porém, Bachelard precisa complementar a ciência não apenas com uma polifilosofia, mas também com uma poderosa filosofia da imaginação, ao passo que Hartmann mostra a incontestável relação da ciência, mesmo quando não é explicitada, com o pensamento do ser. Isso não poderia ser diferente, pois, seja qual for nossa perspectiva filosófica, não há ciência sem homem no mundo nem mundo sem homem que o pensa e o diz. Em hipótese alguma nossos problemas resultam do poder da ciência, e sim da idolatria da ciência.