( ) Percebi que havia algo de insólito naquela tarde de domingo no Canteiro, não só porque se tratava do Grenal do segundo turno do campeonato brasileiro de 2016 e os arqui-inimigos que tanto os tripudiavam em cânticos como rebaixados, agora se viam as voltas com o fantasma da série B, mas também pela presença de ilustres convidados dos capos gremistas, integrantes da Banda Del Parque do Nacional do Uruguai e o subgrupo da La Guardia Imperial do Racing, a Barra del 95 que confraternizavam entre nacos de carne, goles de cerveja e pegas de baseados. Certo era que o Canteiro estava mais cheio do que o habitual e a fumaça e o cheiro dos assados misturados ao odor de cannabis sativa, transpassavam a atmosfera. Enquanto as horas corriam, a excitação e o descontrole ganhavam espaço pelos inúmeros alentaços coletivos, lançamento de foguetes e fogos de artifício sem muito critério com o espaço e a rotina da classe média baixa residente ao entorno. Integrantes da Banda gritavam, assediavam mulheres transeuntes, urinavam em árvores, postes, muros e no que mais fosse adequado para se aliviarem. Naquele 23 de outubro de 2016, o clima de agitação e efervescência reverberava como na realização de enérgicas rodas de pogo, no limite da violência controlada entre seus participantes, algo usual no contexto da Geral, mas que no Canteiro nunca havia presenciado. ()