Depois de ouvir a história, embora tivesse dúvida quanto à lucidez devido às torturas a que fora submetido e considerando o relato um tanto quanto maluco e sem nexo, acreditou que ele não tinha mesmo ligação com a guerrilha da região. Pegou o nome, o número dos documentos, os nomes dos pais, endereço, telefone, e disse que voltaria. Saiu e entrou imediatamente em reunião com o comandante da unidade. Pediu um tempo para levantar informações sobre o brasileiro e que não o torturasse mais, pois não lhe pareceu que pertencesse a uma célula comunista ou fosse um traficante de armas ou de drogas. A ordem foi dada, mas um dos brutamontes tinha enorme prazer em executar serviços sujos e não deu moleza. Apareceu todos os dias no final da tarde com um novo método de tortura e, apesar dos gritos, ninguém veio socorrê-lo. Um dia enfiava agulhas debaixo das unhas, no outro espremia os testículos com uma corda até vê-lo desmaiar, aplicava-lhe choques depois de molhado, sufocava-o com um saco plástico e nenhuma confissão. Em uma dessas sessões, o soldado encarregado da vigia, não suportando mais o sadismo do brutamontes, encostou-lhe o fuzil na fronte e ordenou que parasse. O sujeito debochou da atitude e o soldado, para não deixar dúvida, engatilhou a arma, olhou firme nos olhos e disse: Una vez más y hago volar tu cerebro.