Sabemos que a arte do movimento é congenial à literatura de Julio Cortázar. Numa análise que se vale do moderno conceito de alegoria de Walter Benjamin, Fabiana Camargo convida o leitor a acompanhá-la em sua aventura crítica: percorrer os escritos cortazarianos para identificar seu modo de encenar diferentes técnicas cinematográficas (em particular, a montagem) e, também, por outro lado, para identificar singulares contaminações literárias na linguagem do cinema trânsitos, traduções, transcodificações. Vemos aqui o enredamento textual e imagético que a cada vez arrebata o leitor/espectador num vertiginoso jogo irônico em que se parte da contemplação de um mundo arruinado, o da modernidade, para dotá-lo de novos sentidos. Com isso, há uma inversão entre o que se crê ser percepção imediata do mundo e a visão sempre mediada da arte e do artista. [...]