não aceito a ideia em moda de que a literatura, de fato, não existe; de que a literatura é apenas sua bagagem ideológica; de que, à parte a instituição burguesa das Belas Letras, não haja nada que corresponda ao termo literatura. Parece-me que, ao contrário, há um tipo de experiência muito particular chamada experiência literária. Em que isso consiste? Num evento. Ou seja, algo acontece num texto, ou acontece com o leitor, e isso é o que, para mim, é especificamente literário. Obviamente, o texto literário ou, antes, a coisa literária num texto não pode ser simplesmente definida dentro dos limites da instituição ou da academia, como uma divisão do conhecimento. Os textos literários não estão confinados àqueles estudados em departamentos de literatura: qualquer texto pode ser tornar literário se for atravessado pela coisa que faz a literariedade. É isso o que tentei alcançar com a formulação da coisa literária.