G mora numa favela e, depois de um árduo dia de trabalho, chega sujo de cimento à sala de aula onde vai aprender a ler. Já a alfabetizadora Beatriz mora num bairro de classe média, e descobre a vida na favela com o olhar de estudante de ciências sociais. É o encontro desses dois mundos que Marlene Carvalho registra com mestria neste livro, nascido da sua participação como formadora de alfabetizadores num programa de alfabetização em comunidades carentes do Rio de Janeiro. De um lado, pessoas que não tiveram a chance de aprender a ler e escrever na idade adequada ou abandonaram a escola depois de uma experiência ruim. De outro, estudantes universitários de vários cursos, sem experiência de magistério, mas comprometidos com a tarefa de alfabetizar e letrar jovens e adultos. Para que o leitor compreenda a importância dos programas de alfabetização como o retratado neste livro, primeiro a autora faz um apanhado histórico das tentativas de combate ao analfabetismo nas últimas sete décadas. Depois, focaliza a experiência de quatro estudantes alfabetizadores que se destacaram ao longo do programa por suas práticas pedagógicas, reflexões e soluções criativas. Com muitos exemplos da produção escrita dos alfabetizandos, a autora também analisa as dificuldades do ensino e da aprendizagem da ortografia, e finaliza a obra com uma reflexão sobre a formação de professores em educação de jovens e adultos, contribuindo, assim, não só para os estudos ainda incipientes dessa área, mas sobretudo para a tarefa de alfabetizar em condições adversas.