Não se deixe enganar. Não adianta morrer não é um livro de autoajuda ou um manual de sobrevivência, cabala, dicionário de símbolos. Ele não pretende explicar a existência, propor a solução para mistérios arcanos, decifrar enigmas místicos, facilitar o entendimento da máquina do mundo, fazer uma ponte entre o divino e o humano. No mínimo, ele é uma narrativa no fio da navalha entre verdade e ficção. Tentando ser simples, gráfico, básico: Não adianta morrer é um tabuleiro de damas (e cavalheiros): Pedrão, Vovô do Crime, Guile Xangô, Vavau, Beleco, Pardal Wenchell, Lana, Olívia, Mirtes, Dafé, Marcelo Cachaça, as Comadres, os Quatro Mandelas, o Comando Vira-lata, e outras peças da pesada, espíritos de porco, atores atormentados. Ainda no universo do jogo, também pode ser uma mesa de carteado debaixo de uma marquise num dia de domingo, as famílias passando para a missa, um bonde voltando do baile, as motos chispam, os táxis estão parados, cachorros, gatos, pombos, um bem-te-vi na árvore do outro lado da rua. Os naipes podem ser os tradicionais espadas, copas, ouros e paus, mas as figuras serão necessariamente novas: o Assassino, o Taxista, a Traição, o Canalha, o Soldado, o General, a Vida, a Morte, o Sonho, a Palavra. Esta é a versão definitiva de um livro que sequestrou seu autor por mais de dez anos, a ponto de transformá-lo em um conversador monotemático, um cavalo montado por personagens que exigiam atenção e oferendas a todo instante, noite e dia. Maciel recebeu por Não adianta morrer o Prêmio Governo de Minas Gerais de Literatura, edição 2012, na categoria Ficção.