O mundo pré-histórico da Tradição Itaparica é reconstruído, neste livro, no fazer e pensar arqueológicos ao serem redimensionados os textos e as coisas. No entanto não se pode, primeiro, ignorar que há diferenças ontológicas entre coisas e texto e segundo, desconsiderar que o estar no mundo da cultura material, do ponto de vista de sua constituição, é fundamentalmente diferente dos textos e da linguagem (OLSEN, 2006). Diante deste estado de coisas, esse tema requisitou um escopo teórico também demarcado pela diversidade de alcance diante de tamanha variedade de ser e estar. A análise teórica está focada em um conjunto de obras que ora se interpenetram, ora apenas se aproximam em demarcações multidisciplinares, no que se pode denominar de arqueologia pós-processual, antropologia interpretativa e antropologia simétrica, filosofia, sociologia da ciência, lingüística e semiótica. De algum modo, a proposta destes encontros disciplinares é promovida em atenção às coisas e palavras e, não, em priorizar o compromisso com um ou outro regime teórico, quando consideradas apenas as purezas das filosofias, como alerta Bjørnar Olsen. Quanto ao objeto empírico constituído da materialidade textual e das coisas representadas iconograficamente ou em exposições de coleções, se fez necessário, inicialmente, realizar um levantamento bibliográfico criterioso acerca das fontes escritas e iconográficas da Tradição Itaparica, num plano mais geral, e do mesmo modo, mais especificamente, sistematizar os dados de descrições tipológico-funcionais e às representações gráficas dos instrumentos relacionados a esta tradição arqueológica. Diante desta diversidade de substâncias da documentação material da Tradição Itaparica - coisas e palavras - percebi que era imprescindível, a todo o momento da pesquisa, criar espaços na minha própria escritura em que a noção-chave de texto pudesse respirar amplamente a plenos pulmões para irrigar a materialidade tanto na escritura textual quanto na textualidade dos objetos, pois, de acordo com Roland Barthes, o texto não está circunscrito apenas ao campo tradicional da literatura, ele também se apresenta no jogo de objetos e de imagens.