Ela escreve assim, como quem não toma fôlego, para ser lida/acolhida sem que uma pausa se faça. Acolhê-la não é fácil, há que se tirar as máscaras, abraçar o espinho, mover entulhos, pudores, pruridos. E ela não se faz de rogada, não convida, não faz mesuras, apenas nos empurra de cabeça no vórtice de um turbilhão de palavras, atordoante, alucinado. O receio de se asfixiar se esvai quando nos damos conta de que asfixiados todos nós estamos é em seu próprio vórtice que ela nos faz novamente respirar. Assim a seguimos, qual bêbados em campo minado. Nada é lapidado, tudo é eviscerado: no dicionário dela, lapidar é eviscerar. Fragmentos de histórias que ela nos deixa entrever se compõem e decompõem a cada poema/petardo/obus, tecendo ressonâncias que se vão tatuando na memória de quem as lê. Ausência é o prato que me resta, diz ela, que a certa altura avisa: qualquer bicho que morda meus calcanhares / vale mais que ter um pensamento preso por algemas. [...]