Nos últimos anos, os indígenas assumiram um protagonismo que tomou de surpresa os cientistas sociais, que, ainda profundamente influenciados pelo colonialismo e etnocentrismo, somente viam tais populações como "menores", "incivilizados" e, pois, apenas como objeto de conhecimento e nunca como produtores e atores. Reconhecê-los como portadores e reivindicadores de direitos verdadeiramente humanos foi um longo processo, que o livro vai narrando, que assume dimensão internacional com o Convênio 107/OIT, ainda fortemente assimilacionista, e, posteriormente, com a Convenção 169/OIT e com a Declaração da ONU de 2007. As discussões que vão dar origem a esta última ocupam boa parte da análise aqui presente, demonstrando a grande resistência - de fundo etnocêntrico e racista - por parte da própria comunidade internacional. Inúmeros desafios estão postos diante disto: a reafirmação da natureza ("pachamama") e toda a cosmologia do sumak kawsay, a territorialidade como algo distinto do mero território físico (mas também espaço de reprodução sócio-cultural), os conhecimentos tradicionais questionando a medicina ocidental e sendo alvo de grandes empresas transnacionais. Estes são alguns pontos que o livro vai apresentando, apontando os necessários questionamentos do próprio locus epistêmico, onde nos encontramos.