Quem primeiro botou as vistas no assombro dessa manhã, não sei dizer. A beleza traiçoeira da frase de abertura desta coletânea já nos alerta de que enfrentaremos textos que demandarão de nós astúcia na leitura, para que não escapem os sentidos profundos e as intenções disfarçadas em cada sentença esculpida nos contos. Fabíola Cunha conhece o que declara ignorar. A resposta desse falso enigma é justamente o elemento que nos conduz pelas linhas de sua escrita singular. Por meio de sua arte, falam ancestrais e vivências coletivas com a tradução de quem domina as múltiplas possibilidades da palavra e o ritmo da prosa. Impressiona a capacidade da autora de criar paisagens. Não se trata da descrição de cenários, mas do retrato feito por meio de palavras para alcançar o sotaque e a gênese das personagens de suas histórias o sotaque não como dicção em sentido literal, mas como expressão que traduz as experiências das figuras fictícias que a artista cria. O poder de síntese e a (...)