Se a ideia de um caderno de sonhos sugere a espontaneidade das anotações sonolentas e imediatas, este Caderno de Sonhos de Ana Gabriela Rebelo concilia a lembrança do sonho vertida em poema e um trabalho tão preciso de linguagem que, envoltos pelo ritmo, mal conseguimos enxergá-lo. O artifício desaparece por detrás de imagens que deslocam e condensam sentidos e se dizem ora em verso, ora em prosa, como se o que determinasse a voz fosse justamente um pedido mudo de cada coisa: jeitos de que a respiração acompanhe a leitura e o passeio da autora pelo mundo embaçado das melhores fotografias, dos melhores e dos piores sonhos da poesia. Aquela que sonha e nos diz, aquela que oferece palavras que se encontram na linha de corte entre o onírico e o poético, compartilha seu entendimento, seu desentendimento e seu espanto na mesma medida. O vivido, seja em vigília ou em sonho, tenha ou não acontecido de verdade (na verdade mais verdadeira, eu nem acredito em verdade), [...]