Poucas imagens representam melhor a condição de subdesenvolvimento (ou capitalismo periférico) do que o interior da moradia popular. Os bens eletrônicos e eletrodomésticos carregam no seu design referencias de um padrão tecnológico e estético que contrasta com a casa que, em geral, é produto da autoconstrução, e com o baixo padrão de saneamento. O projeto neo-desenvolvimentista do governo federal incluiu o incentivo à compra de móveis e bens doméstico, além de carros e motos, pelo mercado popular, visando um movimento contra cíclico em relação à crise internacional de 2008. O investimento na construção civil também fez parte do projeto. Esse movimento repetiu dinâmica semelhante que teve lugar em meados do anos 1970 com as mesmas consequências. O mercado interno de consumo se ampliou mas as condições urbanas de vida, dependentes de políticas públicas, permanecem precárias após um intervalo de 40 anos. É o que revela este livro de Kauê Lopes dos Santos baseado em pesquisas realizadas em dois bairros periféricos da metrópole paulistana. A novidade entre esses dois momentos fica por conta da internet e das lan houses, dos expedientes financeiros que viabilizam as compras e da concentração do comércio varejista em algumas grandes empresas. A condição de vida urbana não mudou. Persiste a negação do direito à cidade para os trabalhadores o que permite questionar tais propostas desenvolvimentistas.