Num momento em que a Psicanálise sofre numerosa críticas, sendo atacada e vilipendiada pelas neurociências e psicologia da cognição que lhe negam não só qualquer validade epistemológica, mas toda eficácia prática, parece urgente procuramos entender novamente sua mensagem original: a) Wo Es war, soll Ich werden (onde era o Id, o Eu deve tornar-se); b) o Inconsciente não é uma realidade física: c) o Eu não é mestre em sua própria casa; d) o homem é um Sujeito que não se reduz a um objeto: é engendrado pela substituição da ordem biológica (a pulsão) à simbólica; e) o humanismo da Psicanálise é incompatível com uma abordagem estritamente materialista reduzindo as expressões subjetivas a simples conexões neuronais. Não podendo ser considerada um espiritualismo, um saber misterioso ou oculto, a Psicanálise defende um humanismo que se apresenta como a primeira grande exigência da subjetivação do pensamento. Apoiando-se no que diz o Sujeito, abre-o ao campo de seu Desejo, sem identificar o simbólico ao religioso. O projeto de Freud de conferir à teoria do inconsciente um estatuto de cientificidade sempre esteve vinculado a uma representação filosófica respeitosa da falibilidade humana, privilegiando a ética ao enciclopedismo e jamais considerando o Eu um escravo do Inconsciente, um produto causal que reduziria ao estado de objeto. Possuidor de liberdade, não é um prisioneiro do mundo, embora nele esteja só e perdido.