Abrir a janela e se deparar com o céu, ficar à vontade em um quintal ou ter breves períodos em silêncio são experiências para a elite das megacidades e se tornaram ainda mais escassas durante o isolamento social. Apartamento é um espaço cênico em que esses privilégios só perpassam seus ocupantes em pensamentos e ambições de futuro. A peça acontece em um prédio daqueles que foram projetados para caber o máximo de pessoas possível. A arquitetura de um fictício coração de mãe, em que sempre cabe mais um. Para personificar a superpopulação, o desigual desenvolvimento econômico e o atropelamento da especulação imobiliária nas principais metrópoles do país, Louise de Lemos nos coloca ativos durante a leitura para montar um tetris de janelas na trajetória de moradores e em seus dilemas rotineiros, nos colocando em colisão com a nossa própria previsibilidade: o que te faz morar aí? Em uma dança sonora, as relações sociais se estabelecem em apertamentos-raiz, em que somos separados por (...)