O “Berro do Bode” é uma coleção de contos com sabor interiorano. As narrativas trazem o tom da familiaridade, com o uso de uma voz narrativa que nomeia os personagens como Dona Donata, Zezinha, enquanto associa a esta rotulação a parentalidade de avós, tios, tias e primos. As histórias acontecem em ambientes pacatos, descritos com imagens universais de ceias do café da manhã, em domingos de páscoa, ao mesmo tempo que as declarações intimistas do narrador expõe sentimentos infantis como “gostar de se esconder da chuva embaixo da mesa”, ou “sentir o cheiro de biscoitos amanteigados”. Algo de inusitado é trazido para estas narrativas íntimas, o desfecho inabitual e o contexto que servem como pano de fundo às histórias misturam-se a uma ampla variedade de sinestesias. Em “Venham Repartir o Pão”, a história da ceia do domingo de Páscoa é introduzida com a participação de personagens caricatas, interioranos pacatos, no entanto a temática da sujeira, da falta de asseio desafia o leitor a absorção dissonante do lirismo visual, imagético, com temáticas repulsivas, como o vômito. Não seria menos que desafiador mergulhar nas estruturas bem definidas da infância, ou nas figuras comuns dos parentes, na contemplação das cidades ao mesmo tempo que, os personagens desenvolvem-se em temáticas diferenciadas, nas quais os sujeitos-personagens, misturam-se a enredos que exploram a animalidade do ser humano, os excrementos de carnificina, da vida cotidiana dos animais de rua. A autora não teme, ela traz e mistura aquilo que há de belo no íntimo do ser humano, mas não o dissociando da morte e da pobreza.